25/09/2015

Barbear - Uma Arte Ancestral (Parte 1)


Mudei de clube! Não, não estou a falar de clubes de futebol, esses ninguém muda (excepção feita ao meu amigo Valente que ao ouvir um relato se mudou do Porto para o Benfica numa tarde amena graças a um golão do Mostovoi nas Antas). Estou a falar do clube dos casados, eu, Governador da Barbearia do Povo saí oficialmente do mercado! Não vou entrar em pormenor mas posso dizer-vos que escolhi a Turquia como destino da minha lua de mel e em boa hora o fiz. Tive 5 dias em Istambul e fui mais 3 para a região da Capadócia, região histórica da Anatólia Central.  As características mais distintivas da região são as suas formações geológicas únicas, resultado de fenómenos vulcânicos e da erosão e o seu rico património histórico e cultural. Esse rico património aliás foi o factor decisivo na hora de decidir com a minha mulher onde iríamos passar uns dias em que pudéssemos divertir, descobrir, aprender e que nos deixasse completamente fascinados. Podíamos ter ido para uma praia deslumbrante na riviera mexicana ou nas ilhas Phi Phi, mas não. Fomos para a Turquia!  


Não vou dar aqui nenhuma lição de história, mas quando o Mustapha (um dos meus guias) falou em Alexandre o Grande, conhecido rei macedônico que conquistou esta região aos persas em 323 A.C, imediatamente me veio à memória uma história sobre ele e sobre pêlos faciais. Alexandre o Grande era conhecido como "O Conquistador" e criou um dos maiores impérios do mundo antigo. Era um notável líder, politico e comandante militar e nunca foi derrotado em combate! Durante as suas campanhas militares houve uma ordem sua que se destacou. Até final do século 4 A.C, Alexandre o Grande encorajou os seus homens a fazerem as suas barbas para que o inimigo não pudesse agarrá-la durante os combates e assim serem degolados, era portanto uma grande desvantagem durante um confronto directo!



Foi durante o seu reinado que se desenvolveram os primeiros instrumentos em cobre e foi ele o principal promotor desta arte, ele acreditava que uma imagem cuidada e arrumada dos seus militares era necessária para fazer a distinção entre os "bárbaros" inimigos! Estas e outras curiosidades lançaram o mote para este artigo. Quem foram os primeiros? Como ? Quando ? Em que circunstâncias ? Porque acredito que é uma matéria interessante e porque aprender nunca é demais, achei que o mote estava lançado e comecei por fazer uma breve pesquisa.

A história do primeiro homem que fez a barba remonta a mais de 100 mil anos atrás quando este pensou em retirar todos os pêlos do corpo e acredita-se que a principal razão foi para se diferenciar  dos restantes animais. Pintura rupestres do Néolitico mostram homens a retirar pêlos com 2 conchas. Uns séculos mais tarde, o sílex (pedra cinzenta facilmente afiada mas não com muita durabilidade) tornou-se  a ferramenta de serviço.

Isto durou até final de 4 A.C, altura em que se acreditava que a aparência sem pêlos era mais saudável e mais benéfico. Os antigos egípcios foram conhecidos pela sua obsessão com a higiene e com a ausência total de pêlos (assim não havia piolhos que resistissem). Qualquer pêlo que se mostra-se visível em qualquer parte do corpo era considerado um crime! Os egipcíos pensavam que terem pêlos faciais era sinal de uma higiene pobre então era muito comum para os mais abastados, terem barbeiros particulares. Na Mesopotâmia, os barbeiros eram muito reputados e estimados na sociedade, juntamente com os médicos. Cada cidade tinha uma rua cheia de barbearias prontas a dar despacho ás filas intermináveis e por uma pequena quantia eram barbeados com uma lâmina, uma pedra-pome e agradável e perfumada massagem facial.



 Com o advento do trabalho com metais (idade do bronze), as ferramentas para fazer a barba foram ficando mais eficientes e sofisticadas. Lâminas e discos  afiados de cobre e mais tarde de bronze e de ferro, proporcionaram um barbear mais apurado. Muito em breve, gregos, romanos e escandinavos seguiriam a tendência. O homem comum indiano (400 A.C) rapava os pêlos do peito e a zona púbica; as legiões romanas usavam pedra-pome nas suas barbas (200 A.C); os bretões rapavam todos os pêlos do corpo excepto a cabeça e bigode (50 A.C); e graças a um grego rico (altamente improvável nos dias de hoje) responsável por trazer barbeiros profissionais da Sicilia para Roma (300 A.C), a arte do barbear foi reconhecida!

Reconheço também que o artigo já vai extenso. Como não vos quero aborrecer e como este blog foi criado para vos divertir e não para vos chatear, na segunda parte abordarei resumidamente mais algumas curiosidades sobre a história do barbear até chegarmos aos dias de hoje. Para "secas" já bastam as filas de supermercado certo? ;)

David  Madeira
(Governador)


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