24/03/2015

Barbeiros: Terapeutas mal pagos?





Cuidar da minha aparência é um ritual diário.
Todos os dias levanto-me, tomo duche e faço a barba, até aqui nada de novo, sou eu e milhares de portugueses que na sua maioria todos os homens optam por esta rotina matinal.

Quando faço a barba naqueles 10 minutos gosto de pensar que sou o "the sexiest man alive", ou uma espécie de James Bond em preparação antes de ter de ir para o Casino executar aquela missão secreta  e saber que ainda vou ficar com uma daquelas bond girls boazonas no fim. Grande maluco certo?

Mas para além de sonhar fazer a barba pode fazer encarar a realidade bem de frente, principalmente quando estás em frente ao espelho e começas a ver e a pensar: "Epá já tenho aqui uns cabelos brancos" ou " estou com um papo maior que o Jabba do Starwars". Fazer a barba faz-me pensar que estou a ficar velho, mas será isso uma coisa má? 

Calma, longe de mim estar aqui a dizer que fazer a barba te pode levar a uma crise de meia idade antecipada, nada disso. Um dos benefícios que me traz no meu caso pessoal, para além de me dar uma aparência mais jovem, é permitir-me abrandar. Sim, porque é preciso perder tempo para cuidar de nós, um barbear perfeito exige muito mais que 5 minutos à Benfica.

Dei por mim a pensar que talvez fazer a rotina diária da minha higiene pessoal fosse uma espécie de terapia para mim e fiquei a matutar neste assunto.

Chegada a altura de cortar o cabelo fui ter com o meu barbeiro e como sempre, cheguei e aguardei pela minha vez. À minha frente, sentado na cadeira do barbeiro, estava um homem com os seus trinta anos a cortar o cabelo. Desabafava com ele, dizendo que a mulher era chata, que o Sporting não andava a jogar nada e ofendia o nosso governo de 2 em 2 minutos. O barbeiro abanava a cabeça e acompanhava-o dando sempre respostas cirúrgicas e complacentes, mas sempre com a paciência de um buda.

Qual verdadeiro psicólogo ou psicanalista, o barbeiro ouviu, ouviu e ainda ouviu mais um bocadinho e só falou quando informou o cliente que o corte eram 6,5 euros. 
No caso particular deste cliente, penso que por ter falado demais deveria  ter-lhe sido cobrado um imposto extra, acho que já não ouvia tanta tagarelice desde o programa da noite da má língua.

Deixo uma dica a todos os barbeiros, antes do cliente se sentar digam-lhes que para um corte com desabafos e queixinhas, fica 10 euros mais caro, aposto que vão passar a ter dias de trabalho com muito mais sossego.

Há pessoas que cansam! Por isso coloco a questão: Serão os barbeiros terapeutas mal pagos? Não deveriam eles cobrar mais por terem que aturar um gajo que não se cala, debitando todos os pormenores da sua vida, que se queixa e ainda pede conselhos?

Mas também existe o contrário. O Mestre Gabriel por exemplo, um dos antigos barbeiros da minha terra no Alentejo, para além de ser um bom barbeiro era conhecido por ter uma personalidade muito peculiar. Falar de politica e de bola era um passatempo para ele e neste caso era ele quem cansava os clientes, mas eles até gostavam e nunca deixaram de lá ir por isso. Começaram foi a adoptar uma técnica muito especial, quando eles se sentavam na cadeira e o mestre perguntava como queriam o corte, eles diziam: " Oh mestre,o corte é normal mas também é sem politica e sem bola". E pronto ele lá se contia e fazia o serviço.

Outro exemplo de um barbeiro muito especial é Miguel Gutierrez mais conhecido como " The Nomad Barber", o barbeiro nómada. Este jovem barbeiro inglês, em 2013,  resolveu iniciar uma aventura de mais de 1 ano, viajando para 5 continentes com apenas um cameraman e o material indispensável para trabalhar. O seu objectivo era conhecer mais sobre a história do barbear clássico e procurar saber o máximo possível sobre como se trata da aparência masculina em outros pontos do mundo.

A sua viagem começou na Grécia, berço do barbear clássico na Europa, passando pela Turquia, portão de entrada do Médio Oriente, iniciando uma espécie de peregrinação ao longo de 12 meses pelo mundo fora.

O seu objectivo era o de falar e aprender com os seus colegas barbeiros nos 5 continentes, descobrindo como uma simples troca pode variar ao longo do globo. Viajando com um orçamento apertado ele usou o aspecto social de uma barbearia para falar com  pessoas cujas vidas não poderiam ser mais distintas.



Miguel Gutierrez criou uma oportunidade ao oferecer cortes de cabelo a pessoas em diferentes países, quer fosse na rua, em parques, na praia ou em outras localizações pitorescas, foi sem dúvida uma aventura de uma vida.

Pelos vistos os barbeiros podem ser terapeutas, comentadores ou aventureiros destemidos e até podem ser mal pagos mas provavelmente até devem ser os mais felizes.


David Madeira





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